O Chief Diversity Officer é o responsável por recrutar e reter talentos zelando pela diversidade, aplicar programas de desenvolvimento de carreira para colaboradores de grupos minoritários, gerenciar grupos de afinidades e treinar todos os funcionários para uma visão comum.
Para se ter ideia, a quantidade de empregos para profissionais especializados em diversidade e inclusão cresceu globalmente mais de 35% no último ano, segundo dados do estudo “Chief Diversity Officers Today: Paving the Way for Diversity & Inclusion Success”. Embora o número geral de contratações de executivos C-Level no mundo tenha caído 18% no último ano, segundo dados do LinkedIn, os CDOs foi uma das posições capaz de crescer 51% no mesmo período.
Daniele Botaro assumiu esta cadeira há 3 anos e hoje é
head de diversidade e inclusão da Oracle para a América Latina.
Sendo uma pessoa curiosa, sempre buscou em sua carreira agir com um propósito. Galgou todos os degraus da vida acadêmica até o doutorado, com pesquisas que visavam ajudar as pessoas e mudar o mundo. Em um curso na Alemanha, estudou os níveis de contaminação de peixes e levou os resultados para a Anvisa. O objetivo era alertar para o problema no Brasil. O órgão regulador negou alterar qualquer tipo de recomendação. Aí , deu um primeiro clique: percebeu que não iria avançar muito mais na comunidade científica. Com a cabeça em dados, começou a perceber, também, a falta de representatividade das mulheres na academia e procurar soluções para diminuir este gap.
Por uma questão pessoal, se mudou do Rio para São Paulo. Conheceu Renata Moraes, CEO e fundadora da ImpulsoBeta, uma das primeiras consultorias de diversidade e inclusão e se deparou com uma realidade nova e se tornou sócia do negócio.
“Abriu uma nova janela para mim. Deu um friozinho na barriga sair da academia
pois teve de mudar a linguagem, a interação com as pessoas, a forma de trabalhar”, relembra.
Quando surgiu a oportunidade de migrar para a dentro de uma empresa e ir para o outro lado do balcão, o tino de cientista falou mais alto. Essa era a chance que teria não somente de apontar caminhos, mas testar hipóteses e mensurar resultados.
“Poderia olhar para aquele experimento que fiz e ver o que gerava de conclusão, de recomendação. Foi muito legal, porque pude desenhar todo processo, toda jornada, de ponta a ponta e medir o resultado do que funciona ou não. Me considero uma cientista da diversidade”, afirma a colunista da MIT Sloan Management Review.
Aliás, uma pesquisa do último ano da McKinsey & Company, grupo de consultoria estratégica, mostrou que empresas com quadros diversos de colaboradores são capazes de lucrar até 33% a mais do que seus pares menos preocupados com esse aspecto de suas operações.
De acordo com outra pesquisa do LinkedIn, companhias com uma equipe voltada para a diversidade têm até 22% mais chances de serem vistas como líderes do setor pelos consumidores.
A posição de CDO é desenhada todo dia de maneiras diferentes em cada empresa e depende muito de quem ocupa esta cadeira, da cultura da empresa, da liderança. Para a conselheira do grupo Gaia, quem se aventura nesta posição, deve ter:
- Conhecimento técnico e teórico
- Capacidade analítica
- Boa comunicação
- Habilidade de se relacionar com diferentes pessoas e áreas
Além de vontade de aprender o tempo todo, pois há um longo caminho pela frente. “Se compararmos com a escola, já fizemos o Ensino Básico e iniciamos o Fundamental. Mas acredito que ainda precisamos de muita educação. Não só formal com treinamento, consultoria, palestra, MBA, mas do aprendizado que acontece o tempo todo e em várias situações de escuta, de troca, de interação. Mesmo que a gente receba o diploma de graduação, é um tema para a vida toda”. E completa: “se a gente fizer um comparativo, mesmo que começamos o Ensino Médio ao mesmo tempo, cada pessoa vai alcançar a formatura numa jornada diferente, pois tem uma maneira de aprender. A sua própria maneira de ressignificar o este conceito tem de sentido dentro da sua conformação familiar, religiosa de, valores, de propósito. Na posição de CDO, tenho de entender que a aula, o exercício prático, a prova vai ser a mesma todo mundo, mas cada um vai aprender da sua maneira.”
Muito se tem falado do tema da diversidade ter entrado no guarda-chuva da ESG (dados ambientais, sociais e de governança). Cada vez mais investidores estão de olho nos indicadores de DE&I na hora de apostar em empresas e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acaba de anunciar que vai facilitar o caminho para que as companhias abertas compartilhem informações sobre dados de diversidade nos seus quadros de funcionários.
Na opinião de Daniele, “diversidade é menos sobre políticas e compliance e mais sobre mentes e corações. Não adianta chegar com um choque de realidade apontando os erros, as estatísticas, trazendo os problemas à tona. É preciso primeiro fazer com que as pessoas se apaixonarem e acreditem no sonho de como esta transformação vai impactar os negócios, trazer bem-estar, criar um ambiente de respeito, de valorização das pessoas. É sobre engajar, inspirar, conscientizar e celebrar e isto é o encantamento da diversidade”.
Quer ouvir mais sobre o tema? Ouça o episódio 12 do podcast “Somos Newa” apresentado por Carine Roos.