A diversidade e inclusão é o compliance moral

Ex-presidente da Bayer, Theo van der Loo, tem sido um porta-voz do meio empresarial na luta por igualdade racial.

“Quero inclusão e diversidade porque é justo, é o correto, não para ficar bem na foto”.

É assim que Theo van der Loo tem se posicionado como um líder que além de bem-sucedido em suas funções, se tornou uma das vozes mais atuantes na luta por maior igualdade nas empresas.

Como CEO da Bayer, cargo que deixou há quase 4 anos, implantou um programa robusto com a criação de comitês e o envolvimento de toda a alta gestão nas questões de equidade racial, de gênero, etária e de pessoas com deficiência.

Usou as redes sociais, em 2017, para fazer um desabafo sobre o preconceito racial que um amigo seu havia sofrido em uma entrevista de emprego por questões étnicas e ganhou um lugar cativo para tratar do tema em palestras e entrevistas.

Neste artigo Theo van der Loo fala do papel da liderança, da necessidade de um envolvimento maior de toda a sociedade e do investimento das empresas em diversidade e inclusão.

Fundador da NatuScience e da Nevele Consulting, presidente do Conselho Curador da FNQ  e é membro do conselho da Marjan Farma, do Centroflora Group e Membro do CEO Legacy, da FDC (Fundação Dom Cabral), onde escolheu o tema Inclusão e Diversidade como seu legado pessoal.

Divisor de águas

Aquele post foi um divisor de águas para a questão racial. A questão da inclusão e diversidade é muito importante para as empresas, para a sociedade e para o País. O que mais chamou a atenção foi o fato de uma pessoa branca ter feito. O que a gente vê por aí parece tudo normal e não é. Se vamos em um restaurante fino e só tem pessoas brancas, é normal. Se você vai a um jogo de futebol , a um desfile de escolas de samba e só tem pessoas brancas, também é normal. Mas não é. A repercussão do meu post se deu pois, de alguma forma, eu expus essa situação. Naquela época, foi inédito, considerado até um ato de coragem. Hoje, já vemos uma avanço significativo, mas estamos ainda só no ínicio

Programas de DE&I

Fazer um programa de diversidade e inclusão dá trabalho. Tem que capacitar as pessoas desde a base até na área de recrutamento e seleção das empresas. A  gente, por preguiça ou preconceito, acabamos contratando pessoas iguais a gente. Temos de fazer um treinamento antes da entrevista para nos focarmos apenas no potencial de cada um e eliminarmos os vieses inconscientes. Temos a ideia de que pessoas negras são menos capacitadas. Einstein já dizia que não podemos esperar mudanças, se continuamos agindo do mesmo modo

Aprendizado 

O avanço é maior se a alta liderança se envolver, se engajando pessoalmente neste processo. Já tem empresas fazendo processos exclusivos para negros. Na verdade, o que foi feito é apenas tirar o filtro de pessoas brancas e aí aparece  a diversidade. Dentro do grupo de negros, há mulheres, PCDs, homossexuais. As pessoas negras nem se motivam a se inscreverem nas vagas antes pois sabiam que não passariam no filtro. Para o recrutador,  em um processo assim, ele terá que apenas escolher a pessoa negra mais capacitada  e pronto. As empresas são muito criticadas, ou porque fazem processos exclusivos ou porque não. O melhor neste momento é o silêncio.  Já ajudariam muito  se ficassem calados ou propusessem algo melhor. Só não podemos deixar como está, senão a mudança não acontece. O processo será lento. Mas temos de respeitar os erros. Deixar as empresas aprenderem com os seus erros

Alta liderança

A alta liderança tem que se envolver realmente no processo. Não é só sair bem na foto é se envolver no filme. Lá atrás, se falou muito de compliance e o alto escalão agiu diretamente para ter sua empresa valorizada. A diversidade e inclusão é o compliance moral.  Nós temos de plantar as sementes aqui e agora para podermos colher os frutos depois.

Empatia

Eu sempre falo se uma pessoa tem um lugar de fala, a outra tem o lugar de escuta. É uma parceria.  Nesta questão racial, o protagonismo está com a comunidade negra. Os brancos escravizaram estas  pessoas e portanto são parte da origem do problema e tem que fazer parte da solução desta situação que não é boa ninguém. É necessário ouvir, estudar, refletir. Usar da empatia e do interesse genuíno de aprender uma realidade que é diferente da sua. Ninguém fez um business case para colocar o homem branco, hétero, nos postos de comando das empresas. Isto aconteceu como forma “natural” dos nossos preconceitos enraizados. Fazer a empresa ser mais diversa é uma vantagem competitiva onde todos podem ganhar, não tem risco de não dar certo.

Expansão

Aqui no Brasil, muitas empresas estão adotando as práticas que vem de suas matrizes no exterior. Temos de expandir esse movimento para fora do ambiente corporativo. Além de ter pessoas dentro das empresas cuidade de DE&I, temos de ter representantes nos sindicatos, em entidades  e federações como a FIEP, em câmaras de comércio. Muitas já têm projetos. Precisamos desta mobilização mais intensa e constante.

Consultoria

Outra questão importante é a contratação de consultoria. É investimento. Muitas vezes tem que realocar verbas. As empresas não estão acostumadas a separar isto no budget. As empresas devem procurar as consultorias que melhor lhe atende diante dos problemas que quer atacar. Participar de eventos sobre o tema e até mesmo contratar fornecedores que se importam com a diversidade. Perguntar o que eles estão fazendo neste sentido e se ainda não acordaram para o tema,  procurar outros. Só assim o movimento passa a ser efetivo.

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