Você já ouviu falar sobre liderança compassiva?
O líder compassivo compreende que tudo faz parte do todo e que os resultados da sua equipe são parte do seu resultado. É um olhar mais humano e altruísta, compreendendo que o seu papel de líder é estar a serviço para que sua equipe seja psicologicamente segura e atinja resultados de alta performance. A CEO e fundadora da Somos Newa, Carine Roos, participou do podcast do Mundo RH e discorreu sobre o tema. Veja os principais trechos abaixo:
Mundo RH: O que são lideranças compassivas e qual a sua importância no mundo organizacional?
Carine Roos: Com a pandemia, criar uma cultura de mais compaixão e de mais empatia é mais do que nunca necessária. Vários estudos mostram que a liderança compassiva ao mesmo tempo é assertiva no sentido de buscar resultados e, também, humana pois busca entender o que seus colaboradores estão precisando. Se de um lado, tem as cobranças, do outro tem o acolhimento, a dimensão da humanidade de reconhecer que as pessoas passam por desafios e devem integrá-los dentro da rotina de trabalho. Afinal, não existe um lado profissional e um pessoal. Se um colaborador está com alguém doente em casa, isso pode afetar o trabalho dele. As lideranças compassivas têm esse olhar integral.
Mundo RH: É possível afirmar que a pandemia tornou os líderes mais humanos?
Carine Roos: Eu não acho que os tornou mais humanos. O que está acontecendo é uma pressão cada vez mais em função da pauta de ESG, de ter empresas mais inclusivas. Na pandemia, vimos muitas organizações com uma cultura de comando e controle. Ouvi muitos relatos de pessoas que estavam trabalhando excessivamente, o que resultou em casos de burnout, estresse, exaustão. Houve uma preocupação com a saúde mental mas não houve necessariamente tempo de preparar essas lideranças para acolher os colaboradores neste nível integral. É essencial a liderança desenvolver competências como empatia, compaixão, de escutar mais para que seus colaboradores se sintam mais pertencentes, incluídos, e obviamente, terem sua qualidade de vida mais respeitada.
Mundo RH: Passando da teoria para a prática, o que as lideranças e as organizações podem fazer para criar um ambiente psicologicamente seguro e saudável para seus colaboradores?
Carine Roos: São várias frentes. A primeira delas é ouvir as pessoas para se fazer um
diagnóstico e entender como os colaboradores estão se sentindo. Com as novas modalidades de trabalho, muitas pessoas estão revendo suas prioridades. São muitas as dimensões a serem consideradas: o trabalho, a qualidade de vida, o cuidado com a família. Por isso, para oferecer essa segurança psicológica se deve partir do entendimento destas novas necessidades.
Outro ponto é ficar atento às micro agressões que são comuns quando se fala de diversidade. Muitas pessoas não percebem os seus vieses inconscientes e fazem piadas machistas, sexistas, racistas. Esse comportamento acaba afastando ainda mais os grupos minorizados e é importante dar espaço para eles falarem.
Em um ambiente de segurança psicológica, por mais que exista uma hierarquia formal, o feedback pode ser dado diretamente para a liderança. É possível fazer o “advogado do diabo” em determinadas reuniões sem ser retalhado, julgado ou amedrontado.
Mundo RH: Qual o impacto das consultorias de DE&I e de saúde mental dentro das organizações?
Carine Roos: Para um trabalho bem feito e de sucesso, as bases são: um diagnóstico preciso de como as pessoas estão se sentindo e o envolvimento efetivo das lideranças. O próximo passo é pensar em possíveis metas e criar ações intencionais para que de fato essas pessoas se sintam incluídas.
Se a liderança estiver verdadeiramente comprometida, vai precisar sair do discurso para uma ação prática que consiste em desenvolver intencionalidade ao criar políticas, rever os seus processos para que não apenas atraiam mais diversidade mas sejam, de fato, inclusivos.
Mundo RH: Quais ações podem contribuir para que os ambientes de trabalho sejam mais inclusivos e valorizem a saúde emocional dos seus colaboradores?
Carine Roos: Um ponto muito importante é a liderança olhar para sua própria saúde mental, pois não é possível estabelecer uma real conexão com os times se não estiver conectado às suas emoções. Isso significa criar pausas, cuidar daquele básico como fazer atividades físicas, ter uma dieta mais equilibrada, ter férias para servir de exemplo.
Uma liderança humanizada passa por desenvolver as competências que já citamos, ter maior consciência sobre os seus vieses inconscientes, fazer letramento na área de direitos humanos e por fim endereçar ações políticas e processos dentro da organização para que se consiga corrigir o desequilíbrio em termos de diversidade e inclusão.
Eu acredito fortemente que as empresas têm um papel fundamental na transformação da nossa sociedade. O líder precisa olhar além das metas e resultados e perguntar: qual é o legado que quer deixar para além dos seus times, da empresa? Qual é o seu papel para mudar efetivamente a sociedade? Por isso, o nível de transformação que se pode gerar dentro das organizações é muito mais sistêmica. É esse olhar que atravessa as empresas e olha para a sociedade reconhecendo a nossa interdependência.
Está sendo bastante recompensador ver resultados práticos dentro das empresas. É um trabalho de formiguinha. Mas uma mudança de cultura não se faz de uma hora para outra. É bom começar a ver a mudança de chavinha de determinadas pessoas e como isso reflete na mudança do sistema. Ao mudar essa mentalidade, teremos empresas mais sustentáveis e preocupadas com a justiça social.
Mundo RH: Qual deve ser o papel do RH no sentido de fortalecer suas lideranças compassivas?
Carine Roos: É um papel essencial dentro das organizações mas é muito importante as lideranças abraçarem a mudança. Pois senão, temas como DE&I ficam restritos ao RH e, na verdade, devem estar na estratégia do negócio. Acho que é um ponto importante as lideranças ampliarem a sua consciência sobre o papel do RH como promotora dessas políticas e fortalecê-lo como um braço direito para não só potencializar esses resultados, mas para acompanhá-los a fim de ter a sustentabilidade não de implantar apenas um projeto, mas trabalhar ao longo de muitos anos para conseguir ter maior diversidade e maior inclusão dentro de uma empresa.