A jornalista Marcia Monteiro fala sobre a geração Perennial, que define como um estado de espírito que preserva a vontade de aprender, de se renovar, sem importar a idade.
Marcia Monteiro é de uma geração ilimitada. Tem todas as idades dentro dela, assume diferentes papéis, convive com times intergeracionais. É uma mulher madura, curiosa, interessada em tudo que está por vir.
Jornalista, integrante da turma de Estudos de Futuro da Casa Firjan, se assume como uma imigrante digital entusiasta, praticante do lifelong learning e da pluralidade de pensamento.
Na busca pela diversidade de gênero, raça, orientação sexual, idade no mundo corporativo fundou a Geração Ilimitada® Estudos e Palestras para compartilhar conhecimentos, construir pontes, quebrar preconceitos etários e fomentar o avanço da inclusão. A consultoria ajuda empresas e marcas a entender melhor o público 50 mais, as oportunidades de negócios e as dinâmicas para integrar gerações.
É coautora do livro “Revolução 50+: a diversidade, inclusão e ampliação do empreendedorismo com propósito”. Palestrante convidada do curso Formação Executiva em Mercado da Longevidade da FGV e também da FIA Business School. Inaugurou o primeiro TED Circle/TEDxRio, como debatedora especialista em gerações.
Com mais de 30 anos de experiência em comunicação, comandou redações da Globo e GloboNews. Hoje é chefe de redação e diretora de episódios do Globo Repórter.
Conversamos com ela sobre a geração Perennial, os avanços da diversidade na sociedade, os papéis das empresas e o preconceito.
1) O que é a Geração Ilimitada?
A Geração Ilimitada é fruto da minha vontade de aprender. Estou muito interessada no que está por vir, mas não no futuro, e sim no aqui e agora. O futuro a gente constrói e está nascendo hoje. A Geração Ilimitada é mais que uma consultoria, é geração de conteúdo, de reflexões, de ideias, de pontes entre gerações mesmo e é ilimitada porque a gente não se limita pela idade, por padrões de comportamento ou por julgamentos. O objetivo é quebrar muros e construir pontes.
2) Como surgiu o termo Perennials?
O termo é novo, tem apenas cinco anos, quando saiu um artigo da revista Fast Company com Gina Pell, diretora criativa e empreendedora da área de tecnologia e se espalhou rapidamente. Gina percebeu que havia pessoas acima de 40 anos que pareciam não envelhecer. Mas não em relação à aparência, a rugas ou a esconder a idade. É um estado de espírito que preserva a constante vontade de aprender, de se renovar, de não se definir por aquele número. Por isso as batizou de “perenes”.
3) O que é ser Perennial?
É não se identificar pela idade e sim pelos seus interesses, hábitos, gostos, experiências. É uma geração multi e intergeracional ao mesmo tempo. São pessoas definidas por essa vontade constante de aprender, de circular, de construir pontes. São pessoas contemporâneas, no sentido de viverem o nosso tempo. Você traz o que está dentro de você de acordo com o momento. A escritora goiana, Cora Coralina, tem um poema que fala: “Sou uma mulher do século passado e trago dentro de mim todas as idades”. Perennial é isto. É como um rio. Cada vez que a gente mergulha nas suas águas, elas não são mais as mesmas. Estamos sempre em transformação.
4) Quem está liderando este movimento dos Perennials?
Mesmo os Perennials sendo de todos os gêneros, o movimento está sendo puxado pelas mulheres. Elas estão levando mais essa bandeira, porque a maturidade oferece uma libertação de padrões de comportamento, de não buscar tanto a aprovação do outro. Nós mulheres somos atravessadas por preconceitos ligados à idade nas duas pontas: quando a gente é muito jovem, a credibilidade é posta em xeque porque não teríamos experiência e, quando ficamos maduras, muitas vezes somos consideradas ultrapassadas. Estamos retomando as rédeas e quebrando esses mitos.
5) Como o mundo corporativo recebe e acolhe esta geração?
O pilar etário está começando a aparecer nas iniciativas de diversidade e inclusão no mundo corporativo. A pandemia trouxe um pouco mais de consciência para essa questão da idade. Todos tiveram que entrar no mundo digital, mesmo tendo medo, e se abrir ao novo. As empresas estão começando também a entender a importância da intergeracionalidade para o negócio. Essa mistura de saberes e visões de mundo traz muita inovação. As corporações, principalmente as que estão interessadas em D&I, estão percebendo que essa não é só uma questão socialmente positiva ou politicamente correta. Pesquisas mostram que reuniões de grupos intergeracionais tomam decisões 60% mais assertivas do que grupos que não têm essa mistura. Tudo converge para acordarmos para essa questão. Respeito é bom para o negócio, para o lucro e para a felicidade.
6) Qual o principal passo que uma empresa deve fazer para se tornar mais inclusiva?
A verdadeira inclusão depende primeiro da vontade da direção das empresas em ouvir as demandas internas e externas das organizações e da sociedade. Mas acho que podemos começar olhando para o próprio RH. Mesmo sendo um setor predominantemente feminino, nem sempre ele é diverso. É bom lembrar que estes profissionais estão ali para compreender, acolher, identificar talentos, propor políticas de treinamento de desenvolvimento e de inclusão. Por isso, é um setor que também precisa ter diversidade, várias cores, gêneros, idades, comunidade LGBTQIA+, PCDs… para evitar vieses inconscientes no recrutamento e retenção de talentos. A Geração Ilimitada ® se propõe a levar essa consciência a todos os pilares de apoio às políticas de gestão de pessoas e inclusão.
7) Como analisa os programas de inclusão para os 50+?
Muita gente critica que ainda são muito poucas as vagas abertas para os 50+. É verdade. Mas devemos ver que é uma porta que se abre, e se ainda não é uma porta, já é uma janela. É assim que começa. As mudanças começam por um começo. Então, temos de louvar estas iniciativas. Muito se fala (mal) sobre os programas de estágio sênior, que não correspondem à experiência e ao salário de pessoas mais velhas. Também pode ser verdade. Mas há cada vez mais gente entrando na faculdade para cursar uma segunda ou nova graduação. Essas pessoas precisam também de oportunidade. O estágio não pode ser limitado a uma idade. A troca de experiências é boa para todos.
8) Como vê o futuro das carreiras?
A maior longevidade tem nos levado à necessidade de aprender a vida inteira. Com isso, as carreiras vão mudar. O ciclo de aprender, trabalhar, se aposentar está sendo todo embaralhado. O profissional agora estuda, trabalha, volta a estudar, trabalha, se aposenta de uma carreira, começa outra, volta a estudar, tem profissões paralelas… Aquele modelo de carreira em Y mudou para um tipo “teia”, onde os saberes vão se cruzando, multiplicando as possibilidades e você faz muitas coisas ao mesmo tempo.
9) Acredita no fim do idadismo em um prazo curto de tempo?
O bastião da idade ainda é um dos últimos preconceitos a serem derrubados. Em relação às gerações anteriores – como os Baby Boomers e a X -, os Millennials (nascidos entre 1981 e 1997) têm uma visão mais ampliada da diversidade. A internet permitiu o acesso desses jovens a pessoas de outros países, a descoberta de diferentes culturas do mundo. A geração Z (nascidos depois de 1998) já tem isso, mas elevado a uma potência bem maior. É a geração nativa digital em que as diferenças ficam ainda mais diluídas. Para muitos jovens na faixa entre 16 e 23 anos, toda esta discussão de diversidade e inclusão nem existe, porque a aceitação do diverso é natural. Sou otimista. Há uma evolução da sociedade, de aprendermos a conviver com o diferente. Acho que é uma questão que está se ampliando , com esse olhar 360º que vai incluir a idade. Cada geração deu a sua contribuição. A geração Alpha (nascidos a partir de 2010) vem aí com uma herança muuuuito mais inclusiva.
Quer saber mais sobre os Perennials? Escute o episódio 24: “Pessoas não se limitam pela Idade” na qual Carine Roos, CEO e Fundadora da Somos Newa conversa com Marcia Monteiro.