Qual é o preço da vulnerabilidade?

Cinco perguntas sobre vulnerabilidade

O que lhe vem à mente quando você pensa na palavra “vulnerabilidade”? Possivelmente surgem situações associadas à fragilidade, à fraqueza ou a algo que deveria ser fortemente evitado, não é mesmo? Pensamos que não devemos nos colocar em situações vulneráveis e associamos tal estado a emoções que queremos evitar como o medo, a vergonha e a incerteza. No entanto, existem estudos muito interessantes que mostram o outro lado dessa característica e do poder e impacto que criamos em nossas vidas quando permitimos a expressão da vulnerabilidade e das nossas emoções.

A vulnerabilidade é uma habilidade a ser aprendida por todos, e que também é uma competência chave para qualquer liderança consciente. A Comunicação Não Violenta pode ser um canal para expressão dos nossos sentimentos e necessidades de maneira genuína sendo responsável também com os sentimentos e necessidades dos outros em nossas relações.

Thayna Meirelles, facilitadora de desenvolvimento e autorrealização e fundadora da escola Konekti Comunicação Não Violenta, respondeu a cinco perguntas para entendermos melhor estes conceitos.

1. Como você enxerga o poder da vulnerabilidade nas relações?

Eu acredito que é fundamental para gerar conexão humana. É um ato de coragem e de responsabilidade , diferente da visão comum que a sociedade tem, ligando a vulnerabilidade à fraqueza, à fragilidade ou a algo doloroso. Para mim, ao contrário, é força, pois traz a responsabilidade de dizer a verdade, do que realmente importa para mim. E quando falo das coisas que importam para mim, o outro ser humano se conecta comigo e desarma a tensão, aprofunda a relação. O poder da vulnerabilidade expressa está neste lugar: de sair do lugar de medo e despertar a vontade de colaborar desde que possa escolher isso.

2. Quais são os primeiros passos para começar um diálogo profundo?

A primeira coisa é pensar o conteúdo que a gente expressa os nossos pensamentos. Gandhi já dizia que nossa linguagem é fruto dos nossos pensamentos e, consequentemente, nossas ações. Temos uma barreira que nos acostumamos que é a de nos comunicar com as pessoas a partir das críticas, dos julgamentos, das análises. A primeira coisa é desconstruir esse aprendizado e começarmos a nos relacionar a partir do que é importante para cada pessoa. Para a Comunicação Não Violenta, não podemos deixar nas mãos do outro o nosso bem estar. Ele depende de como eu atuo e encaro as minhas necessidades de forma responsável. É claro que precisamos do outro. Mas, vamos pedir sem o peso da pessoa fazer ou não. Em segundo lugar, confundimos necessidade com estratégias, de obter aquilo que é importante. As relações amorosas são uma estratégia para atender necessidades de companhia, de apoio, de afeto, de compreensão. Se isto estiver claro, vou poder me vulnerabilizar e pedir exatamente o que eu preciso, sabendo que a pessoa não é obrigada a me atender. É divertido e empoderador quando começamos a assumir as responsabilidades pelo nosso bem estar, pensamentos, necessidades e ações sem depender do outro.

3. Como a Comunicação Não Violenta pode nos apoiar a desenvolver relações mais autênticas e genuínas com as pessoas?

É essencial entender que o que a gente faz e fala impacta no outro. A frase deve ser “eu sinto porque tenho a necessidade de” para começarmos a treinar a falar sobre vulnerabilidade. E para a Comunicação Não Violenta, a autenticidade é nos colocar a partir das nossas necessidades e não do outro. Geralmente, confundimos que ser autênticos é falar o que achamos dos outros. Isso é sincericídio e pode comprometer as relações. Estamos falando aqui em dizer a verdade, mas sobre nós mesmos, na primeira pessoa. Trazemos um outro elemento, aqui, o da observação para expressar o que sentimos diante da ação ou fala da outra pessoa e contar porque. Temos de fazer esse exercício o tempo todo.

4. Qual a diferença entre necessidade e estratégia?

Quero trazer três principais aprendizados culturais segundo a Comunicação Não Verbal que não servem à vida:

  1. Aprendemos uma maneira de nos comunicar com pré-julgamentos do que é certo e errado.
  2. Confundir os dois termos acima. Quando eu consigo distinguir as duas coisas é um grito de liberdade. Quando estou falando em escolhas, estou falando em estratégia. Necessidades humanas universais são paz , afeto, amor. consideração, respeito. Uma necessidade é importante para todo o ser humano pois elas são universais. A gente faz tudo que a gente faz na tentativa de satisfazer nossas necessidades. Se tem pessoa, lugar, ação, tempo definido ou um objeto envolvido é estratégia.
  3. Aprendizados como estratégias únicas como casamento, carreira, fazer faculdades, ter filhos. Quando você é muito consciente das necessidades que você quer cuidar, pode fazer escolhas muito mais conscientes e que dizem respeito a você mesmo sem ter que atender às expectativas alheias. Agimos o tempo todo para agradar o outro e assumimos estratégias que não cuidam de nós.

5. Como usar a Comunicação Não Verbal para dar feedback no ambiente corporativo?

Antes de mais nada, temos de praticar a auto empatia. Reconhecer como reajo aos estímulos. O convite da CNV é ir para dentro. Parar, respirar e entender o que está sentindo. Os sentimentos são mensageiros das necessidades. Só isso já cria espaço para a gente começar a dialogar com outra pessoa. No ambiente de trabalho, às vezes, a gente não se sente confortável em falar dos nossos sentimentos e não tem problema. O que precisamos expressar para o outro são as minhas necessidades. O maior desafio é separar o que aconteceu do que “pensa” que aconteceu. O feedback tem que abrir espaço para ouvir o outro. É uma pista de mão dupla. A gente conecta primeiro para resolver depois.

Quer saber mais? Ouça o episódio 4 da segunda temporada do nosso podcast com a participação de Thayna Meirelles :