Vivendo com a Síndrome de Burnout: Você precisa de ajuda?

Burnout: Helloá Regina Castro e Roberta Carusi sofreram em épocas diferentes de suas vidas e em carreiras distintas. Uma no serviço público e outra no agitado mercado publicitário. Hoje, ambas ajudam pessoas a superarem esta doença.

Duas mulheres, duas gerações, um só diagnóstico, uma só missão: ajudar as pessoas vítimas de burnout. Helloá Regina Castro era funcionária pública e foi atingida pela síndrome aos 21 anos, quando era ainda bem jovem. Roberta Carusi, por sua vez, era publicitária e o burnout aconteceu aos 43 anos. O preconceito e a cobrança veio para ambas: uma sofrendo com as dores do amadurecimento e sem força e energia, características que a juventude geralmente tem, e a outra por começar a ser considerada “ultrapassada” e não conseguir acompanhar o ritmo alucinante de trabalho do mercado publicitário. Ouviram ainda comentários de que eram fracas, que isto era coisa de “mulherzinha”, estavam com TPM e até menopausa. Deram um basta e hoje atuam ajudando outras pessoas a superarem o burnout.

Helloá fundou a Vencendo o Burnout e administra o maior grupo de apoio do Facebook, com quase 6 mil membros e Roberta, além de escrever o livro “No Limite do Stress” e levar para as redes sociais um compartilhamento dos seus aprendizados e descobertas, se tornou terapeuta integrativa.

Elas não estão sozinhas. Pesquisa de uma empresa suíça de recursos humanos que reuniu 15 mil pessoas em diversos países, afirma que 38% dos entrevistados relataram ter sofrido da Síndrome de Burnout ao longo de 2021. Dentre eles, 32% também disseram ter uma piora “significativa” da saúde mental trabalhando de casa, tendo problemas como estresse, insônia, alteração do hábito alimentar, ansiedade, entre outros quadros.

“Eu era servidora pública e ao contrário do que muita gente pensa, estabilidade na profissão não é, necessariamente, estabilidade emocional. Quando relatei para a minha liderança que estava passando por problemas emocionais, o feedback foi super negativo. Fui acusada de estar decepcionando, que apesar do meu potencial, fraquejei, que estava sendo fraca desistindo das demandas. Isto só contribuiu para que meu quadro gravasse, pois insistia em trabalhar cada vez mais buscando aprovação de outras pessoas e abrindo mão da minha saúde. O colapso foi inevitável. Fui ao médico que identificou a crise”, relata Helloá.

A jornada de Roberta foi um pouco diferente. Como diretora de comunicação de uma agência de comunicação integrada focada em marketing promocional, trabalhava em média 20 horas por dia e nem se considerava workaholic. Percebeu que não estava bem quando passou da hashtag: amo o que faço para chorar dentro do carro quando ia trabalhar. Pediu demissão e três dias depois, jantando com uma amiga, passou mal. A partir daí, entrou em uma epopeia que durou três anos até que tivesse o diagnóstico final. 

“Foram 36 meses com um nível de fadiga muito incapacitante, sem saber o que estava acontecendo. Ouvindo de especialistas que não tinha nada e sem melhorar. Foi muito difícil achar um profissional que realmente entendesse o que estava passando sem me taxar de louca. Fui muito mal orientada. E faço uma ressalva que sou uma pessoa lotada de privilégio. Estamos falando de especialistas que uma consulta é o PIB de um pequeno país e eles não sabiam o que fazer. Há realmente ignorância da classe de saúde como um todo.”

A Síndrome de Burnout, ou síndrome do esgotamento mental, possui relação direta entre se sentir bem, gerar uma espécie de depressão, confusão da performance no ofício com a autoestima do profissional.

A partir do primeiro dia de 2022, o burnout ganhou ainda mais holofotes com a resolução da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nessa data, passou a vigorar a 11ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 11), no qual a condição é descrita como “processo de adoecimento decorrente da exposição ao estresse crônico no ambiente de trabalho”, não associado mais ao trabalhador e, sim, à atividade profissional e à empresa.

Ela envolve três sintomas:

1 – exaustão emocional (falta de energia e esgotamento emocional);
2 – cinismo e ceticismo (falta de empatia pelos colegas de trabalho e descrença na existência da própria crise pessoal);
3 – baixa realização profissional (sentimento de culpa por conta da baixa produtividade).

A autora do livro sobre o tema explica que existe uma diferença de stress, cansaço, burnout.  O burnout necessariamente vai aparecer quando se soma três coisas: a sobrecarga alta, um ambiente hostil e uma inabilidade emocional da pessoa em lidar com este quadro. Segundo ela, o stress é a soma do cansaço com medo. “Não é só o cansaço de uma sobrecarga alta, mas inserida dentro de um contexto do medo do que os outros vão pensar, de perder o emprego, de não ter grana, do que as pessoas esperam de você, de qual é a sua imagem. Junta aí a culpa de querer descansar, largar uma carreira sólida, um emprego quando tem tanta gente desempregada.”

Na sua jornada, passou por fases. Na primeira, quando teve o colapso ficou totalmente desamparada e sozinha. “Não consegui me fazer ouvir ou me fazer entender. Sabia que não era depressão ou ansiedade, mas não sabia que era síndrome de burnout”.

Na segunda fase, incluiu a responsabilidade sobre a sua saúde mental no chefe, na empresa, na área de comunicação e no ambiente. “Estava num ambiente bélico e competitivo que é o oposto da minha personalidade e eu me vi obrigada a me transformar para sobreviver nesse meio. Olhando de fora eu estava ótima, mas por dentro, qual era o preço que eu tava pagando ?

Na terceira fase, que se encontra hoje, inferiu que não é apenas vítima, mas que tem responsabilidades também sobre as escolhas que fez.

“Eu sei que fiz o melhor que podia com os recursos que tinha. Mas foram escolhas minhas. A recuperação do burnout é uma profunda jornada de amadurecimento em que você vai deixar de ser criança e assumir a sua parte de responsabilidade. O primeiro impulso é jogar a culpa em alguém, no sistema, no País. Quando você escolhe essa responsabilidade de sair desse lugar e mudar a sua vida é a hora em que começa a se recuperar. As pessoas falam que tem de mudar o estilo de vida. Mudar o estilo de vida é a consequência de você mudar sua forma de entender a sua participação dentro de um contexto que te oprime e não ficar apenas no papel de vítima”.

A ex-funcionária pública associou a sua sensação de desconforto com o trabalho, com o processo de se tornar adulta e que era normal se sentir assim, pois todo mundo tinha dor de cabeça, não dormia direito, tomava muito café. 

“Como todos viam estes problemas como “normais”, assumi que realmente parte de ser adulto é sofrer. Eu só tinha 21 anos, imagine quando chegasse aos 70. Não sabia se queria isso para mim nem aos 22. Não vale a pena viver para pagar boleto. Fui absorvendo essa rotina e adoecendo dentro dela”, relata. “Não me ajudou a entender que algo estava errado comigo, pelo contrário, me fez achar que era parte da normalidade apesar das dores frequentes e constantes. Tomei a culpa para mim, achando que era pior do que os outros, problemática, difícil. Quando iniciei o tratamento da Síndrome de Burnout, a primeira coisa que eu tive que trabalhar foi essa culpa, de que não era o problema, e conforme o tratamento avançava, comecei a ver que é possível uma vida muito mais leve e feliz.”

Se precisar de ajuda para enfrentar a Síndrome de Burnout, visite os perfis @RobertaCarusi e @Vencendoburnout no Instagram.

Ouça ainda o episódio 42 do podcast Somos Newa: “Quando a acolhimento não vem”.

Helloá Regina Castro, administradora, passou pela Síndrome de Burnout aos 21 anos e hoje orienta pessoas e empresas sobre o tema. Fundou a Vencendo o Burnout e administra o maior grupo de apoio do Facebook, com quase 6 mil membros.

Roberta Carusi é uma ex-publicitária que transformou sua vida depois de um burnout. Escreveu um livro, No Limite do Stress, e levou para as redes sociais um compartilhamento dos seus aprendizados, descobertas, melhorias, recaídas e vitórias durante a sua recuperação. Ainda em 2022, começará a atender outras pessoas que viram sua vida virar de ponta-cabeça com o mesmo diagnóstico como terapeuta integrativa com foco na recuperação da síndrome de burnout.