Novas pesquisas relacionam a presença de plantas ou de referências ao meio ambiente nas empresas com o bem-estar dos funcionários
Integrar a natureza à ambientes de trabalho traz impactos positivos ao bem-estar, no desempenho e na criatividade dos funcionários. É o que garantem um grupo de professores em artigo na “Harvard Business Review,” publicação sobre liderança e estratégia da Universidade Harvard.
Em alguns experimentos, mostraram aos trabalhadores imagens de locais de trabalho repletos de elementos naturais e fotos de ambientes sem plantas. Depois, pediam para que as equipes imaginassem que trabalhavam nesses espaços e contassem como os cenários os impactavam.
Em seguida, conduziram análises em escritórios reais, repletos de verde e até com sons de água que reproduzem o barulho de riachos.
Por fim, efetuaram outra experiência em campo, em uma firma de contabilidade. Entram na companhia à noite e colocaram vasos de plantas nas mesas de alguns funcionários e recipientes vazios, apenas com material de trabalho, em outras baias, a fim de comparar as atitudes e desempenhos dos dois grupos, a partir da manhã seguinte.
Vejo flores em você
De acordo com os autores, todos os resultados dos testes foram consistentes em mostrar que o acesso a pequenas “doses” de verde nas organizações melhora a maneira como os empregados se sentem, com um maior estímulo e criatividade nas tarefas.
“As descobertas indicam que a incorporação da ‘micro natureza’ pode contribuir para o bem-estar e o desempenho profissional de maneira significativa”, apontam. Eles consideram a “micro natureza” tudo o que pode representar ambientes externos
Para os estudiosos, as pesquisas provam que a natureza precisa estar acessível a um maior número possível de funcionários – e não apenas aos sortudos que trabalham sob um telhado verde, em terraços ou ao lado de um parque.
Nessa linha, oferecem três sugestões para integrar a “micro natureza” às áreas de produção:
Potencialize recursos
O real é melhor, mas o artificial também funciona. Pouca gente pode trabalhar no meio de uma densa floresta, mas é possível dar aos times a oportunidade de conviver com fontes de água internas, janelas com vista ou que se abrem para deixar entrar o som dos pássaros.
A arte imita a vida
As análises indicam que até mesmo representações de áreas verdes, como murais e flores artificiais, dão conta do recado.A “micro natureza” pode “entrar” no escritório por meio de uma parede de tons naturais, com flores nas salas ou pinturas em corredores e em espaços externos.
Espalhe mais verde
Espaços “frios” e subutilizados, como estacionamentos, podem ser transformados, de maneira barata, com toques simples de paisagismo.
Interiores humanizados – Para o arquiteto Cacau Esteves, que assina a decoração de bancos, empresas e jatos privados no Brasil e no exterior, ideias simples podem trazer referências permanentes do meio ambiente às lajes corporativas. “É possível recorrer a serviços de assinatura de entrega mensal de arranjos de mesa ou eleger funcionários para cuidar desta manutenção”.
A sugestão do especialista é que o trabalho comece com uma pesquisa sobre quais tipos de plantas são mais adequadas para locais fechados. Depois, cada vaso grande deve ter um duplo ou um “back up”, de igual tamanho, reservado em área aberta – na empresa ou na casa de alguém, explica. “Assim, a cada quinzena, as plantas podem ser trocadas e estarão sempre bonitas.”
Esteves também recomenda o uso de espécies como cactos ornamentais e suculentas para as mesas, e de jardins verticais nos estacionamentos. “Todo estacionamento fechado tem um área de ‘respiro’ ou que entra mais luz, que pode ser usada para receber as estruturas”, diz.
O arquiteto lembra ainda que os funcionários podem trazer suas plantas preferidas para “passeios” no escritório, com permanência de alguns dias. Isso leva à interação entre os times, garante. “Os bonsais, por exemplo, quando bem cuidados, acompanham uma pessoa pela vida inteira”, diz. “Talvez aquele colega que nunca se aproximou de você “chegue junto’ para perguntar sobre a planta.”
Cuidando da cabeça
Na avaliação da socióloga Carine Roos, CEO da Newa, consultoria brasileira que atua em áreas como saúde emocional, a ligação com o meio ambiente é uma forma de “recarregar baterias”. “Quando estamos em contato com a natureza, há uma forma de contemplação, de conexão com nós mesmos”, diz. “Isso [nos faz] trabalhar e se relacionar melhor com as pessoas.”
A fim de garantir a “presença” da natureza nos expedientes, a orientação da executiva é que as chefias também olhem para fora dos muros das organizações. “Podemos buscar os efeitos do cuidado com os colaboradores por meio de intervalos, que ajudam na conexão com o mundo externo”, diz. “Estudos apontam que uma caminhada no parque de manhã cedo ou uma boa pausa no almoço fazem uma diferença substancial na saúde mental.”
SOBRE CARINE ROOS:
A profissional é especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Ela é CEO e fundadora da Newa Consultoria, uma empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. Mais de 12 mil pessoas foram impactadas em vivências com mais de três mil horas em salas de aula e mais de 2 mil mulheres mentoradas, que hoje estão mais seguras, mais estratégicas, mais reconectadas com a sua história e com a sua essência. À frente da Newa, Carine tem como missão preparar líderes para que a Diversidade, Equidade e a Inclusão sejam uma realidade imediata nas organizações.
Reportagem publicada no jornal O Valor Econômico em 31 de julho de 2013