Investir em capacitação, networking e cultivar a resiliência são aspectos relevantes, dizem especialistas. Porém , a pauta [da igualdade] não pode ser só das mulheres. Precisamos ‘trazer’ todos para que, juntos, possamos construir ambientes mais plurais
Por Jacilio Saraiva — De São Paulo
As profissionais que querem fazer carreira em setores historicamente preenchidos por homens devem investir em capacitação, networking e cultivar a resiliência, afirmam consultores ouvidos pelo Valor. “O mais importante nessa jornada é estar preparada, confiar em si mesma e construir alianças que ajudarão a encontrar um caminho possível para a escalada”, recomenda Rodrigo Vianna, CEO da Mappit Plural, empresa do Talenses Group especializada em recrutamento de vagas afirmativas. Das contratações realizadas pelo Talenses em 2023 para posições de chefia (gerência ou superior), 45% foram de mulheres.
Mara Turolla, gerente de desenvolvimento de liderança e head de diversidade e inclusão da consultoria de recursos humanos LHH, pontua que as executivas devem mostrar que estão disponíveis para a ascensão profissional. “Trabalhe ativamente na divulgação dos seus resultados e deixe claro, para a liderança e o RH, o interesse por posições de comando”, explica. “Busque também um mentor influente no setor de atuação e grupos de mulheres líderes.”
No ano passado, do total de candidatos entrevistados para recrutamento e seleção na LHH, 43,7% foram executivas e 22,3% acabaram contratadas para cadeiras de decisão – ante 77,7% de gestores admitidos. “Há uma falta de sensibilização e de preparação dos líderes sobre a gestão da diversidade dos times”, acrescenta. “Trabalhar os vieses inconscientes é um começo para que os indicadores definidos pelas empresas sobre o tema possam evoluir.”
Na opinião de Carine Roos, CEO e fundadora da Newa, consultoria de impacto social que atua no desenvolvimento de organizações, o movimento para ocupar indústrias conhecidas pelo domínio masculino pode começar “da porta para fora”. Para atrair mais executivas, as empresas devem adaptar os anúncios de emprego que divulgam, explica. “É possível listar os arranjos de trabalho flexíveis, políticas organizacionais relacionadas à licença parental e, na fase de entrevistas, não fazer perguntas sobre o histórico de remuneração”, enumera. “Isso perpetua disparidades salariais por gênero e etnia.”
Mara Pezzotti, que acumula as posições de vice-presidente regional Europa e vice-presidente global de soluções de marketing da multinacional brasileira Moove, de lubrificantes automotivos como os da marca Mobil, acredita que cultivar o autoconhecimento ajuda na construção de competências profissionais. “É fundamental se posicionar, buscar aliados e ser o mais transparente possível”, ensina a executiva, que tem 25 anos de carreira. Ela lidera diretamente sete executivos, a maioria (57%) homens, em unidades que reúnem cerca de 500 funcionários. “A pauta [da igualdade] não pode ser só das mulheres. Precisamos ‘trazer’ todos para que, juntos, possamos construir ambientes mais plurais.”
Sobre Carine Roos
Mestre em Gênero pela London School of Economics and Political Science – LSE. Também é pós-graduada na Faculdade Israelista Albert Einstein em Cultivando Equilíbrio Emocional nas organizações e atua como especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Lidera a Newa, empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade.
Reportagem publicada em 07 de março de 2024 no Jornal Valor Econômico