A importância da equidade de gênero no mercado de trabalho
Apesar das mulheres representarem 50% da população, elas ocupam apenas 32,4% dos cargos de liderança. Além disso, ainda serão precisos mais 132 anos para reduzir a disparidade de gênero. A busca pela equidade de gênero além de ser prioritária, precisa de intencionalidade.
Originado no século 19, o Dia Internacional da Mulher simboliza a luta por direitos iguais entre homens e mulheres ao mesmo tempo em que nos convida a celebrar as conquistas até aqui. Assim, essa é uma data extremamente importante para lembrarmos que, embora as mulheres tenham adquirido direitos básicos, ainda há um longo caminho pela frente.
Nesse ínterim, as empresas desempenham um papel fundamental, já que elas não só refletem, como também ajudam a fortalecer a sociedade.
Por isso, é extremamente importante que as organizações assumam sua responsabilidade social e se comprometam em criar iniciativas que visam a equidade de gênero.
Mas o que é equidade de gênero?
A equidade de gênero consiste na busca por um tratamento justo que garanta oportunidades e resultados equivalentes.
Dessa forma, a equidade de gênero vai além da igualdade formal, buscando abordar as desigualdades estruturais e culturais que podem existir em várias áreas da sociedade, como no mercado de trabalho, na educação, na política e na vida cotidiana.
Isso envolve não apenas garantir que homens e mulheres tenham os mesmos direitos legais, mas também abordar as normas sociais e estereótipos de gênero que podem perpetuar desigualdades.
Assim, diferente da igualdade, que busca tratar todos como iguais, a equidade prega que é importante tratar desigualmente os desiguais, isto é, oferecer diferentes ferramentas a depender das necessidades individuais e coletivas de um grupo.
Por que precisamos falar de equidade de gênero no mercado de trabalho?
Além disso, de acordo com o relatório Global Gender Gap do Fórum Econômico Mundial, levará mais 132 anos para eliminar globalmente as iniquidades de gênero.
Quando olhamos para o Brasil, a situação não deixa de ser alarmante: o país ocupa a 57ª posição no ranking geral de países mais igualitários em relação ao gênero, ficando atrás de alguns de seus vizinhos latino-americanos como Nicaragua (7ª), Costa Rica (14ª), Jamaica (24ª), Chile (27ª), México (33ª), Peru (34ª), Argentina (36ª), Equador (50ª) e Bolívia (56ª).
A situação é ainda pior no quesito participação econômica e oportunidade, onde o país ocupa a 86ª posição. Segundo o relatório, a média da disparidade de rendimentos entre homens e mulheres no mesmo cargo é de 37,2%. Ou seja, as mulheres recebem até 32,7% a menos que homens para a mesma função. Isso prova que a equidade de gênero no mercado de trabalho é uma questão urgente.
A saber, as mulheres são 50% da população mundial, porém representam apenas 32,4% dos cargos de liderança em empresas mid-market, de acordo com a Grant Thornton. Isso evidencia um aumento de apenas 0,5 pontos percentuais em relação a 2022. Nesse ritmo, as mulheres ocupam apenas 34% dos cargos de liderança em 2025.
Assim, fica claro que as empresas são essenciais para garantir um futuro mais justo, igualitário e inclusivo.
Quais os benefícios que a equidade de gênero traz?
Além disso, a diversidade de gêneros traz inúmeros benefícios para as organizações. Em primeiro lugar, a multiplicidade de pessoas traz consigo perspectivas diferentes, o que gera inovação e aumenta a criatividade do time. Segundo a Accenture, empresas diversas trazem 11 vezes mais inovação e 6 vezes mais criatividade.
Similarmente, empresas onde mais de 30% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, podem apresentar resultados financeiros 15% melhores, segundo a EY.
Por fim, de acordo com a HayGroup, empresas com equipes diversas apresentam colaboradores 17% mais engajados. Dessa forma, fica evidente que promover a equidade de gênero, além de ser urgente, é benéfico para todo mundo.
Como incluir a equidade de gênero nas empresas?
Como vimos, é fundamental garantir a equidade de gênero no mercado de trabalho. Um time diverso promove não só mudanças sociais, como também cria um ambiente mais inovador e próspero.
Carine Roos, mestre em gênero, CEO da Newa e especialista em DE&I (diversidade, equidade e inclusão), reforça que a busca pela equidade de gênero além de ser prioritária, precisa de intencionalidade.
“Muitas vezes as iniciativas de diversidade, equidade e inclusão possuem caráter performativo e não levam a transformações mais substanciais e sustentáveis. Para garantir que ações estejam efetivamente comprometidas com a equidade, é crucial que a alta liderança esteja 100% comprometida com uma mudança efetiva e, assim, propiciar por meio de políticas, programas e processos ambientes mais saudáveis e antirracistas às mulheres.”, destaca.
Para isso, a especialista em DE&I traz algumas ações que podem ser implantadas pelas empresas:
- Desenvolver um plano de ação antirracista e antimisógino por meio de ações mensuráveis que sejam: a) reportadas ao nível superior e b) refletidas nas avaliações de desempenho dos gestores;
- Comunicar claramente os valores das organizações, estabelecendo expectativas claras relativamente a comportamentos aceitáveis e inaceitáveis, e promover a compreensão, através de comunicações, de como é o racismo e a misoginia no local de trabalho;
- Ter um mecanismo de denúncia claro e transparente para queixas e assédio, incluindo racismo e misoginia, e garantir que os resultados sejam obtidos da forma mais independente possível, com consideração cuidadosa dos efeitos das hierarquias e dinâmicas de poder dentro da organização;
- Recolher dados sobre experiências de racismo e misoginia no local de trabalho, incluindo a monitorização de queixas e se estas são confirmadas, por gênero e etnia. Seguir com planos de ação para resolver quaisquer desigualdades;
- Realizar entrevistas de saída quando os funcionários deixam as suas funções, especialmente mulheres, pessoas negras e de grupos minorizados, e utilizar estes dados para identificar e resolver quaisquer questões organizacionais;
- Reconhecer o impacto do racismo e da misoginia no local de trabalho na saúde física e mental e fornecer apoio aos funcionários informados sobre traumas.
“Além dos pontos acima mencionados, é necessário que as organizações invistam em lideranças que desenvolvam competências como escuta ativa, empatia e compaixão, buscando atender as necessidades não apenas das mulheres em média e alta liderança, mas especialmente aquelas que estão na base da pirâmide social das organizações.”, acrescenta
5 empresas que estão usando a inovação para promover a equidade de gênero no mercado de trabalho
Em julho de 2023, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aprovou uma proposta da B3 para aumentar a diversidade de gênero nas organizações. Agora, todas as empresas listadas na Bolsa deverão ter, ao menos, uma mulher ocupando cargo no conselho de administração ou na diretoria estatutária até 2026.
Para ajudar nessa missão, muitas empresas estão contando com femtechs e tecnologias emergentes para promover a equidade de gênero. Confira algumas delas abaixo!
Coca-Cola
A Coca-Cola FEMSA, maior engarrafadora do mundo em volume de vendas, por exemplo, tem a meta de aumentar em 20 pontos a representatividade de mulheres em cargos de gerência e diretoria.
Para isso, se uniu à Se Candidate Mulher!, femtech de empregabilidade feminina, para capacitar e selecionar mulheres para ocuparem 50 cargos de liderança dentro da organização. Neste processo, mais de 1.800 mulheres foram capacitadas e mais de 400 foram pré-selecionadas. Com isso, a Coca-Cola FEMSA economizou 50h de trabalho do time de RH e R$ 105 mil em mídia.
O Google também é autor de vários movimentos de capacitação de futuras lideranças femininas. Ao lado da B2Mamy, martech especializada em empregabilidade de mulheres que são mães, criou o Ela é CTO Launchpad Women, um programa de formação e empregabilidade de mulheres na tecnologia.
Grupo Carrefour
O Grupo Carrefour se uniu às startups Se Candidate, Mulher!, Manas Digitais e Instituto Joga Junto para capacitar mulheres da região Norte em tecnologia. As inscritas receberam um treinamento completo na área de qualidade (QA) além de orientações sobre como de processos seletivos na área da tecnologia.
Bosch
A Bosch tem como objetivo que todos seus produtos contenham inteligência artificial até 2025. Porém, uma das premissas da adoção dessa tecnologia, é que ela seja pautada na ética, justiça e diversidade.
Para isso, a empresa tem treinado seus modelos de linguagens com dados diversos e extremamente regulados. Com essa estratégia, a organização visa evitar vieses inconscientes e discriminações em seus processos seletivos, por exemplo.
Accenture
Desde 2018 a Newa trabalha em estreita colaboração com a Accenture Brasil, desenvolvendo e implementando treinamentos para seus executivos, visando fomentar a Diversidade, Equidade e Inclusão.
Em 2022, aprendendo com a experiência de outras empresas e ouvindo os apelos dos participantes, a Newa idealizou uma jornada de aprendizagem chamada Liderança Humanizada, para oferecer aos executivos um espaço confiável de reflexão e criação de estratégias disruptivas para reduzir conflitos violentos, problemas de saúde mental e falta de engajamento.
Mais de 300 lideranças passaram pela imersão em Liderança Humanizada. Como resultado, elas mencionaram o aumento de consciência em relação às pautas de direitos humanos, diversidade, inclusão e igualdade de gênero. Além disso, mencionaram também redução nos níveis de stress e ansiedade.
Sobre Carine Roos
Mestre em Gênero pela London School of Economics and Political Science – LSE. Também é pós-graduada na Faculdade Israelista Albert Einstein em Cultivando Equilíbrio Emocional nas organizações e atua como especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Lidera a Newa, empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade.
Matéria publicada no Distrito em 08 de março de 2024