A jornada do florescer humano: A felicidade genuína

Todos nós queremos ser felizes e para chegar lá devemos “florescer”. Para o blog, Jeanne Pilli, farmacêutica, certificada do programa Cultivating Emotional Balance e responsável pela formação de professores no Brasil, fala sobre os 4 pilares da CEB e como aplicá-los na prática.

Uma das mais conceituadas universidades do mundo, a Harvard, está realizando o estudo mais longínquo já existente sobre a felicidade. Com início no ano de 1938, a pesquisa com mais de oito décadas está analisando 700 pessoas durante toda a sua vida para descobrir lições sobre a felicidade. E o que já relataram é que os fatores principais relacionados a ser feliz, são as conexões com os amigos, família e a comunidade ao redor.

Além disso, a felicidade traz resultados muito positivos para as empresas. De acordo com um relatório feito pela “Harvard Business Review”, colaboradores felizes são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. Para a  empresa, este impacto resulta, ainda, em 55% menos demissões e uma probabilidade 125% menor de casos de burnout.

Jeanne Pilli é farmacêutica de formação budista, praticante de yoga e nos últimos tempos se dedica a compartilhar a prática de meditação de uma forma não religiosa. Em agosto de 2013 recebeu a certificação do programa Cultivating Emotional Balance (CEB) ministrado por  Eve Ekman e Alan Wallace, treinamento intenso, em todos os sentidos, com 5 semanas de duração. Em 2017, foi autorizada a dar a formação de professores do Programa junto com Elisa Kozasa pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. 

No nosso blog, ela falou felicidade genuína, os pilares Cultivating Emotional Balance (CEB), como podemos ter ambientes de trabalho psicologicamente seguros, a importância de líderes humanizados e da meditação.

1) Como define a felicidade genuína e o quê para você torna de fato uma vida mais significativa?

Eu nem sei se gosto desta felicidade genuína, pois parece que é uma coisa a ser alcançada. A palavra que prefiro e que Alan Wallace usa é “florescer humano”. Com este termo, é mais fácil entender que não é algo que vai acontecer definitivamente, mas que vai acontecendo em todos os momentos. O florescer precisa de um eixo que é a ética que causa o impacto mais positivo possível em todas as esferas da nossa vida pessoal, interpessoal, ambiental. Reforçando que devemos dedicar nosso tempo na direção de um bem-estar maior, mais profundo e mais amplo. E são muitas as frentes: vertical, horizontal com profundidade e de abertura, por isso a necessidade de um eixo para nos trazer conforto, amorosidade, acolhimento, cuidado. Sem ele, podemos  tomar decisões  que  não funcionam.  

2) Como ser feliz diante do momento tão crítico que vivemos principalmente por causa da pandemia que chega no seu segundo ano?

Sempre vamos estar em um contexto mais ou menos desafiador. Claro, que estes últimos anos foram difíceis, que marcou todo mundo, pela dor, dificuldades, perdas. Mas de uma certa maneira, a vida sempre será assim. Não é realista  esperar que tudo em volta esteja sempre bem. A diferença está em como reagir nessas situações e usar o que quer que aconteça na nossa vida como um combustível, material de reflexão, de conexão. A felicidade genuína tem mais a ver com isso.

A pandemia acabou trazendo um senso maior de conexão, pois todos passamos por elas. Uns com mais recursos, outros com mais problemas físicos e financeiros. Mas de alguma forma sacudiu a vida de todos. Foi uma grande experiência de interdependência. Não adiantava se esconder. Foi necessário um ajudar o outro. Todos devem se vacinar, pois de uma certa forma a vida de todo mundo depende de cada um e isto é incrível. É uma grande oportunidade para se conectar e cultivar o coração, a “famosa” compaixão. E não é mais uma escolha. Ou sofre, se afunda, se perde ou começa muito rapidamente a olhar o outro.

3) Quais são os pilares do programa Cultivando o Equilíbrio Emocional (CEB)?

Cultivando o Equilíbrio Emocional (CEB) é um programa educacional, em que se trabalha com questões relacionadas às insatisfações da vida e desequilíbrios emocionais. A base teórica são métodos de treinamento da mente e métodos de controle emocional e possui quatro pilares.

O primeiro seria a compreensão de que como posso ver e não só reagir a tudo que me acontece, usando esse olhar para cultivar todas as minhas potencialidades humanas. Em vez de me sentir vítima das circunstâncias, assumimos a responsabilidade, o que é empoderador. 

A segunda ferramenta é a qualidade da nossa atenção.  É preciso um centramento maior para poder olhar as coisas de uma perspectiva diferente do que estamos acostumados a se entregar para as reações emocionais. Fazer uma pausa, se acalmar.  Porque assim se abre um pouco de campo de visão e surgem outras possibilidades. Neste ponto, as práticas de meditação ajudam muito. O foco é uma presença inteira  para sentir a textura, não só aquela coisa chapada.

O terceiro, que eu mais gosto, pois é aquele que vira o jogo é deixar de lado determinadas crenças construídas com base em experiências. Acostumamos a olhar o mundo desta janela que a gente mesmo formatou e nos foi útil para trazer no estágio que estamos. Mas é como enxergar com um óculos cheio de manchas. Este viés do equilíbrio cognitivo tem o poder de desafiarmos a entender as nossas crenças limitantes, compreender o que não serve mais para mim e mudar. A realidade não se concentra apenas naquilo que você presta atenção. O real para nós, não real para os outros. Nem percebemos que estamos fazendo isso. É importante sacudir este hábito.

Como consequência desses três equilíbrio, a intenção, presença e lucidez, a nossa vida emocional e afetiva vai ser totalmente transformada. Me leva para um lugar construtivo com mais cooperação, compreensão e conexão. Com estas três ferramentas, entendemos que as emoções são soberanas e podemos fazer o que quisermos com elas. Aí entra a cereja do bolo que é abrir cada vez mais o nosso coração. No programa CEB chamamos de qualidade do coração onde habitam o amor, a compaixão e alegria. O bonito e o complexo desse programa ou desse caminho é que os quatro equilíbrios precisam se apoiar.

4) Como é possível promover momentos de felicidade no trabalho?

As pessoas passam muito tempo no trabalho. Teremos de ter coragem de misturar tudo e ser feliz na vida pessoal e profissional, pois somos a mesma pessoa. Na minha história dentro do mundo corporativo, fiquei muito tempo dividida. Era gerente de uma indústria farmacêutica durante muitos anos e praticante de yoga, meditação e budista. Me sentia como se tivesse uma dupla personalidade, com o coração partido no meio. Isso é uma dor insuportável.

Acredito que precisamos ter coragem de tornar as organizações em lugares mais humanizados. No sentido de compreender que as pessoas precisam de mais espaços para se tornarem a melhor versão delas mesmas, especialmente no trabalho onde se passa um tempo tão grande da nossa vida.

5) Como a liderança pode ser um instrumento de felicidade?

Os líderes, precisam, primeiro, trabalhar em si mesmos, ter contato com o mundo interno e buscar este equilíbrio para eles poderem cultivar um espaço para florescer dentro das empresas que dirigem atendendo todos os objetivos corporativos.

Se formos lembrar das pessoas que mais marcaram nas nossas carreiras, seguramente foram pessoas que eram mais inteiras e que davam espaço para os outros serem inteiros também. Não é receita de bolo, mas acredito que se esses líderes puderem ter esse papel de compromisso consigo mesmos, vão poder apoiar os outros nesse caminho e o resultado serão novas ideias e consequentemente o cumprimento das metas estabelecidos pela companhia.

6) Como podemos usar a meditação e o momentos de relaxamento a nosso favor?

Temos de criar raízes, espaços mais consistentemente protegidos. Não só para fazer prática de meditação e silêncio, mas para discutir, aumentar os laços com pessoas que estão fazendo a mesma coisa, se encontrando periodicamente. É muito importante porque assim a gente vai se apoiando. Desta forma, podemos trabalhar as mesmas 19 horas com outra qualidade. Na verdade não é o tempo que a gente passa trabalhando, mas aprender a fazer as coisas que a gente faz com menos esforço

A gente se cansa muito mais do que precisamos. Por isso é preciso criar esses esses momentos de mais  aprofundamento da  prática de relaxamento, de acalmar a mente e  o corpo para que a gente possa ser uma referência. O descanso vai permeando tudo que a gente faz como uma atitude de amor, de amor por si mesmo, assim todo mundo vai sair ganhando todo mundo em volta com essa atitude.

Saiba mais no episódio 38 do podcastSomos Newa”:  “O que é essa tal felicidade genuína?”

Jeanne Pilli, farmacêutica de formação, budista e praticante de Yoga que, nos últimos tempos, se dedica a compartilhar a prática de meditação de uma forma não religiosa. Em agosto de 2013, ela recebeu a certificação do programa Cultivating Emotional Balance. Já em 2017, foi autorizada a dar a formação para os professores deste programa, junto com Elisa Kozasa, pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Juntas, vamos conversar sobre felicidade genuína, como esta nos traz sabedoria e nos leva em direção ao bem estar que impacta em todas as esferas da nossa vida.