Equipes geracionais são mais criativas e inovadoras

Mórris Litvak criou o hub Maturi para atender o público 50+ e mostrar às empresas como é importante ter times diversos.

Há seis anos o paulistano Mórris Litvak entrou de cabeça no mundo do envelhecimento e longevidade. Começou a estudar o assunto e a participar ativamente de grupos e eventos sobre o tema. A inspiração veio da história da avó, Keila, que trabalhou até os 82 anos. Quando ela parou de trabalhar, sua saúde decaiu rapidamente.

Formado em engenharia de Software, com pós-graduação em Gestão em Inovação Social pelo Amani Institute, fez um trabalho voluntário em uma casa de repouso, abraçou a causa e resolveu que queria empreender nesta área.

Em 2015  fundou a Maturi que hoje é um hub que conecta o público 50+ com as empresas, trabalha para quebrar as barreiras ainda existentes no B2B, além de promover formação com o Maturi Academy e incentivo ao empreendedorismo.

Em parceria com a NOZ Pesquisa e Inteligência, a startup realizou uma pesquisa com quase 2 mil pessoas de todo o Brasil que mostrou que a relação entre preconceito etário, tecnologia e aprendizado são os temas mais presentes no dia-a-dia das pessoas desta faixa etária frente à crise sanitária.

“Tivemos dois momentos distintos. No ano passado, foi mais aquele susto de fechar tudo e se cuidar. Tinha medo de ficar doente, de perder o trabalho e de abalar as finanças. Agora, as pessoas estão mais abertas, pois a maior parte deste público já está vacinado”, comenta o CEO e fundador da Maturi. “Continuam em casa, mas estão se reinventando, fazendo o que podem para poder trabalhar, muitos tendo que se virar sozinhos. Porque o que já era difícil antes da pandemia, de conseguir emprego com mais de 50 anos, agora ficou ainda mais desafiador.”

Quatro em cada dez participantes da pesquisa estão em busca de recolocação profissional e, desses, metade perdeu o trabalho durante a pandemia. Além disso, 64% deles relatam que o preconceito etário enfrentado na vida profissional é um dos maiores obstáculos para conseguirem uma nova vaga de emprego.

Empreendedorismo – Os 50+ vem sofrendo muito com o impacto da crise com relação ao emprego. Aos poucos a economia está se recuperando e a taxa de ocupação aumentando. Os profissionais mais velhos ainda não conquistaram espaço no mercado de trabalho, que  na opinião de Litvak, teoricamente, não faz sentido porque está tendo um movimento de contratação. “O preconceito etário ainda é muito forte em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, a dificuldade está fazendo uma boa parte das pessoas se mexerem visto que foram jogados no mundo digital e que há muitas oportunidades.  Por isso, temos falado recorrentemente com eles sobre empreendedorismo.”

A taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,1% no 2º trimestre de 2021, mas ainda atinge 14,4 milhões de brasileiros, informou nesta terça-feira (31) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho por conta própria bateu recorde no país, atingindo 24,8 milhões de trabalhadores, o que corresponde a 28,3% de toda a população ocupada. De cada 10 novos postos de trabalho gerados no país no último ano, 7 foram por conta própria.

O caminho do empreendedorismo parece inevitável para boa parte dos 50+, apesar de ser uma geração que foi educada para ter emprego, de preferência, o mesmo a vida inteira. A dinâmica que se dá principalmente no mundo digital, de trabalhar como consultor, autônomo e freelancer, é muito nova. As pessoas maduras estão vivendo esse momento de ter que buscar novos caminhos profissionais através da tecnologia e novos formatos de trabalho.

Para quem quer empreender, os conselhos são:

  • Ter resiliência 
  • Faça de forma planejada sem loucura ou desespero
  • Tenha pessoas boas ao seu lado como um sócio ou parceiro 
  • Procure ajuda para ter um direcionamento
  • Estude para não investir tempo e dinheiro à toa 
  • Se der errado, não tenha medo de recomeçar

Para quem ainda prefere ter um emprego fixo, a boa nova é que as empresas precisam abrir os olhos para estes profissionais. O estudo “Rotas Diversidade e Longevidade 2035”, liderado pelo Centro de Inovação Sesi (CIS) em Longevidade e Produtividade, com cooperação técnica do Observatório Sistema Fiep, aponta que os ambientes laborais com pessoas de várias faixas etárias, acima dos 60 anos, são mais criativos e inovadores. E isso reflete não apenas na criação de um espaço harmônico entre os colaboradores, mas também no aspecto financeiro, com mais produtividade.

Afinal de contas, hoje mais de 1/4 da população brasileira já tem 50 anos ou mais. “Estamos vendo nesse momento a revolução da longevidade. A pirâmide etária está se invertendo. As empresas precisam se preparar para isso, pois é estratégico. Estas pessoas agregam muito aos seus times de forma a trazer experiência e comprometimento complementar ao jovem”, comenta o empreendedor social. “Não é nem melhor, nem pior.  É muito legal entender as diferenças e ter um ambiente propício para isso. E além disso, a organização vai ter uma melhor visão deste público consumidor que também é enorme.”

Saúde mental – Além disso, esta troca geracional tem sido importante para empresas no sentido de ter pessoas mais maduras na equipe junto com jovens para ajudá-los a lidar com esse momento de ansiedade, preocupação e incertezas. Segundo o engenheiro, este é um ponto muito positivo. “É interessante notar que as pessoas 50+ estão conseguindo lidar melhor com este momento em comparação com os jovens. Por serem mais velhos, terem mais experiência de vida, passarem por diversas crises, acabam tendo um pouco mais de calma e jogo de cintura para enfrentar esta situação.”

Uma pesquisa realizada em diferentes cidades brasileiras pela consultoria Ipec  mostrou que metade dos jovens de 18 a 24 anos considera sua saúde mental como “ruim” (39%) ou “muito ruim” (11%). No mesmo grupo, somente 4% classifica sua saúde mental como “muito boa”. Do total dos pesquisados, as queixas mais comuns foram tristeza (42%), insônia (38%), irritação (38%), angústia ou medo (36%), além de crises de choro (21%).

A questão da maturidade também apareceu em um outro estudo do GPTW sobre o Impacto da COVID-19 no trabalho, realizado em julho com 181 empresas e 72.411 respondentes, houveram diferenças significativas para as faixas etárias, sendo mais crítico quanto menor a idade. Os jovens são profissionais com maior contato com pessoas e relataram que sentiam bastante medo, tanto por parte da organização (perda do emprego), quanto pela possibilidade de contrair a doença.

Os chamados soft skills que dão essa base para encarar este tipo de situação precisam ser desenvolvidos por todos os profissionais. Para os mais maduros, é necessário ter ainda muita curiosidade pelo novo e adaptabilidade. 

“Não adianta ficar preso ao passado. Muita coisa que era feita antes hoje em dia já está automatizada. Muitas profissões estão deixando de existir, mas novas estão sendo criadas. Qualquer pessoa de qualquer idade tem que estar sempre se atualizando, fazendo cursos, estudando. Não só com relação à tecnologia, mas questões comportamentais. O mundo do trabalho é mais diverso, colaborativo, horizontal. É preciso ter humildade para aprender e trabalhar com jovens. Estar aberto para este mix geracional”, comenta Litvak.

Os principais passos são:

  • Fazer networking de forma ativa 
  • Saber usar LinkedIn  e outras redes sociais
  • Participar de comunidades como a Maturi 
  • Ir a eventos 
  • Ser proativo
  • Aguçar curiosidades 
  • Ter capacidade de adaptação
  • Ser humilde para aprender coisas novas 

Para o estudioso, os jovens precisam ter consciência sobre a questão do envelhecimento e longevidade, afinal também ficarão velhos. Ele completa: “esse assunto diz respeito a todos porque, com sorte, todos nós vamos envelhecer. Nós chegaremos à maturidade e se não combater o etarismo agora, com certeza vai sofrer lá na frente. Independente de raça, classe social, gênero, todos vão envelhecer. É importante ter esse entendimento de que é algo transversal. “

Quanto ao futuro da Maturi, o plano são muitos, entre eles a internacionalização e transformação em um produto mais digital para buscar a receita recorrente para o negócio e escalabilidade. Um outro objetivo é estender ainda mais o impacto social, criando um braço para atender as pessoas 50+ de baixa renda que não estão nem incluídas digitalmente. De forma mais ambiciosa, influenciar  políticas públicas a fim de ter um incentivo oficial, abrindo ainda mais o mercado para este movimento em favor dos 50+.

Confira o episódio do podcast “Somos Newa”: Por que o etarismo não faz sentido?