A sua empresa tem um plano de felicidade?

Para a Chief Happiness Officer, Renata Rivetti, o papel deste profissional é conscientizar e explicar o porquê estamos falando de felicidade. E quando se fala de felicidade no trabalho é muito mais do trabalho da pessoa e das suas relações do que da organização em si.

Engenheiros de software, cientistas de dados, especialistas em segurança cibernética gestores de tráfego, enfermeiro intensivista, gerente de engajamento

são algumas das 25 profissões em alta em 2022 listadas pelo LinkedIn.

Não passa nem perto de uma que se faz necessária há muito tempo: o Chief Happiness Officer. O CHO é o responsável por diagnosticar e planejar ações para a felicidade dos colaboradores, conscientizando equipes e lideranças a criarem ambientes mais saudáveis e com significado.

“O papel do CHO é conscientizar e explicar o porquê estamos falando de felicidade. Não é só levar a equipe para Disney, não é política de pão e circo. É ao contrário. Quando a gente fala de felicidade no trabalho é muito mais do trabalho da pessoa e das suas relações”, explica Renata Rivetti, diretora  e consultora da Reconnect | Happiness at Work.

O primeiro passo para fazer um plano de felicidade na empresa é buscar a dor. Entender o que está incomodando: alto turnover, baixa satisfação dos clientes, baixo engajamento, deixando de inovar.

“Pois, de fato, um plano de felicidade vai ajudar nesses indicadores. Só não será do dia para a noite. Existe uma transição, um questionamento no mundo, uma mudança acontecendo, mas é lenta, gradual. Estamos plantando sementes”, analisa a professora do MBA Isec Lisboa de Felicidade Organizacional . “Há muitos idealistas no mundo. Somos várias pessoas compartilhando da mesma missão, do mesmo propósito. Quando olho para as empresas percebo que existem pessoas acreditando, incentivando e se engajando com o tema da felicidade.”

Na sua opinião, hoje, ainda trabalhamos com a equação errada. “Buscamos  o sucesso para ser feliz. Na verdade, temos de tentar ser felizes para o sucesso vir. Nas empresas é a mesma coisa. É totalmente viável para os líderes entenderem que obviamente pessoas que têm melhores relações e gostam do que fazem, vão gerar melhores resultados. E aí você começa a vincular um plano de felicidade com o resultado da empresa.”

O estudo do LinkedIn mostra que os fatores que motivam a mudança de emprego são a busca por melhores salários e também pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Foi exatamente isso que fez com que Renata deixasse uma carreira bem sucedida como gerente de marketing em grandes empresas e multinacionais para, em 2017, fazer uma transição de carreira, passando a atuar no desenvolvimento de pessoas, se especializando no tema da “Felicidade no Trabalho”.

“Existe a moda de uma positividade até tóxica. Quando falamos da ciência da felicidade na psicologia positiva é mais sério e comprovado cientificamente. Na minha própria vida, sempre fui cobaia por tentar fazer um mundo melhor, de gerar mais impacto positivo nas pessoas e, quem sabe, ter uma vida mais feliz. Acredito muito neste caminho. A felicidade não vai bater nas nossas portas. Precisamos de fato cultivar novos hábitos, fazer mudanças em nossas vidas. Buscar o autoconhecimento para saber o  que  me motiva, me engaja. Assim, posso buscar os caminhos certos tanto na minha empresa quanto na minha vida. E sempre é possível, pode ser duro, difícil e depende de muita dedicação e esforço”, comenta  a especialista em Estudos da Felicidade na Happiness Studies Academy.

Aliás, desde os filósofos gregos, a busca pela felicidade é a questão chave do ser humano. Porém, os indicadores apontam o oposto: somos uma sociedade ansiosa, deprimida e solitária. Parte disso é porque, talvez, estejamos vivendo uma vida com prazer e conquistas materiais, mas sem significado.

O economista londrino Paul Dolan cita que felicidade é a combinação da experiência de prazer e propósito ao longo do tempo. São esses dois fatores que nos fazem ter uma vida mais feliz. Um é a alegria e bem-estar. O outro pilar é o citado por Aristóteles: uma vida de harmonia, com virtudes, auto-realização, com propósito e significado

Para a TEDx Speaker, a felicidade corporativa também tem o mesmo viés. “Vamos fazer festa, dar benefícios que as pessoas vão ficar felizes. As empresas têm que olhar outros pontos como a questão das relações positivas. Ter um ambiente onde há confiança entre as pessoas, os colaboradores se sentem reconhecidos e valorizados. Um  aspecto que é fundamental para a felicidade no trabalho é as pessoas gostarem do que fazem, se sentirem desafiadas e realizadas, terem um significado no dia a dia delas. A sociedade e as empresas se preocuparam demais apenas com o lado hedônico. Quando a pandemia chega e tira as festas, o ambiente colorido, o tobogã, vem a pergunta: o que vamos fazer para manter as pessoas felizes e motivadas no trabalho?”

A felicidade é subjetiva e pessoal, claro. Mesmo assim, há caminhos para mensurar o bem-estar através de um modelo conhecido como PERMA — criado por Martin Seligman, um dos pais da Psicologia Positiva.

Segundo Seligman, o PERMA indica cinco pilares que devem ser buscados para obter uma vida com mais felicidade e mais significado.

1) O primeiro aspecto é resgatar emoções positivas. Com a vida on-line, perdemos muito o contato com as emoções positivas que vinham quando  tomávamos um café,  dava uma risada com um amigo, descia no prédio, às vezes, para tomar sol. Havia algumas pausas que eram essenciais. Um estudo na pandemia feito pela  Microsoft mostrou que colaboradores que faziam  10 minutos de pausa entre as reuniões para fazer realmente algo que gostavam voltavam menos estressados, com mais atenção plena e cognição.

2) O segundo pilar é do engajamento para encontrar o estado de flow,  onde se apresentam desafios dentro das nossas capacidades. Não é algo só de RH. Deve ter a participação direta do líder. Ele precisa criar um espaço aberto para entender, inclusive, o que os funcionários amam e o que fazem bem.  A intersecção dos meus talentos, forças, paixões gera o flow.

3) O terceiro é ter uma escuta mais ativa, com feedbacks mais empáticos e um ambiente com mais segurança psicológica. É uma construção. As empresas, muitas vezes, fazem cerimônias de reconhecimento e premiações em dezembro. O ideal seria toda a semana. Eu costumo fazer sempre às sextas-feiras um check out para reconhecer alguém da equipe, um fornecedor, uma pessoa que nos ajudou.

4) O quarto pilar é o significado. É buscar além do job description uma percepção da importância do seu trabalho que, obviamente, gerará mais produtividade e felicidade.

5) E por fim, as realizações. Não adianta passar a vida sonhando: um dia vou ser voluntário na África, ter um propósito. As realizações devem acontecer aqui e agora. Isto não depende  de ninguém, só de nós mesmos. Este é  um papel da própria pessoa, de auto responsabilidade.

“Tudo isto  é parte de uma construção feita por todos. O CFO não é um super-herói. A grande parte de um plano de felicidade é conscientizar a alta liderança e as as próprias pessoas de que não adianta esperar o mundo perfeito pois ele não vai acontecer. Por isso, temos de buscar as ferramentas que tragam um caminho um pouco mais pleno”, ensina a administradora com pós-graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem Estar e Auto Realização.

Um dos cases da sua consultoria que gosta de citar foi um programa de 3 meses sobre liderança positiva feito com a Dasa, empresa da área de saúde  com mais de 40 mil colaboradores que  têm uma cultura forte de falar o significado, do propósito que é melhorar a saúde no Brasil. 

“Os líderes, uns bons batedores de metas, outros mais técnicos, pararam para pensar neles como seres humanos e ouvirem sobre atenção plena, meditação, novos hábitos, saúde, segurança psicológica. Mudar o mindset de sempre olhar o viés negativo, as metas que não batemos, os resultados que não alcançamos, as fraquezas dos colaboradores para seguir as diretrizes da psicologia positiva e focar no lado saudável do ser humano, ver as suas forças e dos seus colaboradores. Ao fazer estas transformações individuais isso acaba gerando transformações profundas nas empresas”, relata a palestrante.

Relatório da World Happiness Report mostra que o Brasil ocupa hoje a posição de número 38 de 146 países que mede o nível de felicidade das populações. O Brasil chegou a ocupar a 14ª posição do ranking no ano de 2014. A pesquisa pede para as pessoas enumerarem, numa escala de zero a dez, a satisfação com a vida, com a saúde e educação, e se tiveram sentimentos negativos ou positivos nos últimos dias, entre outros questionamentos.

“O Brasil é sempre mais desafiador por causa das desigualdades sociais. Há vários estudos relacionando, por exemplo, dinheiro e felicidade. É ingênuo achar que não tem nenhuma ligação. Se você não tem suas necessidades básicas atendidas é difícil falar de felicidade de auto-realização”, afirma Renata. “Aqui as empresas têm um papel importante praticando o capitalismo consciente. A felicidade nas empresas tem a ver com a volta do ser humano, de olhar a pessoa que está do meu lado com um pouco mais de empatia, de entender os impactos das minhas ações nos outros. Tem grandes empresas que pagam o pequeno fornecedor em 120 dias. O que vai mudar para ela, pagar 5 ou 10 mil antes.  Para as pequenas empresas faz toda a diferença. Devemos ser mais conscientes e éticos em todas as nossas ações.”

Ouça o episódio 46 do podcast “Somos Newa”: Dá para ser feliz no trabalho?

Renata Rivetti

TEDx Speaker | Chief Happiness Officer e diretora Reconnect | Happiness at Work

Graduada em Administração pela FGV-EAESP, com Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem Estar e Auto Realização pela PUC-RS e Especialização em Estudos da Felicidade na Happiness Studies Academy.

Atuou como gerente de marketing por muitos anos em grandes empresas e multinacionais e em 2017 fez uma transição de carreira, passando a atuar no desenvolvimento de pessoas, se especializando no tema da Felicidade no Trabalho. Atualmente, atua como diretora e consultora da Reconnect | Happiness at Work, palestrante e professora do MBA Isec Lisboa de Felicidade Organizacional.